Reviver o sonho de Francisco e Clara de Assis...

Reviver o sonho de Francisco e Clara de Assis...
“Num certo dia, quando se lia na igreja o Evangelho sobre como o Senhor enviara seus discípulos a pregar, estando presente o santo de Deus, como tivesse entendido de alguma forma as palavras do Evangelho, depois que se celebraram as solenidades da missa, ele suplicou humildemente ao sacerdote que lhe fosse explicado o Evangelho. Depois que este lhe expôs tudo por ordem, ouvindo São Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro ou prata ou dinheiro, não levar bolsa nem alforje nem pão nem bastão pelo caminho, nem ter calçados nem duas túnicas, mas pregar o reino de Deus e a conversão, exultando imediatamente no espírito de Deus, disse: É isto que eu quero, é isto que eu procuro, é isto que eu desejo fazer do íntimo do coração” (1Cel 22).
Para Francisco este certo dia é mais do que apenas uma data significativa. É um momento sagrado, um momento de clareza sobre sua vocação, sua missão. É o encontro com o caminho ardentemente procurado. Vivendo numa sociedade marcada pela crescente poderio do dinheiro, o Evangelho lhe aponta a via da pobreza que ele começa imediatamente a percorrer. E neste caminho ele recebe irmãos que, como ele, sonham uma sociedade e uma Igreja diferentes. Uma sociedade sem excluídos, uma Igreja próxima dos pobres. Uma sociedade e uma Igreja de irmãos e irmãs. A loucura da pobreza é o caminho para a irmandade.
E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho. (Test 14). É a irmandade a bússola que aponta diretamente para o Senhor, para o Evangelho. Com o cimento da fraternidade Francisco e os irmãos começam a reparar as brechas da Igreja afastada dos pobres e, por isso, afastada do Evangelho. Ser irmão menor, estar entre os menores, é a primeira faísca da imensa fogueira que vai incendiar o mundo. Em 2008, celebramos 800 anos, desde que o Evangelho do envio em missão, sem nada, iluminou Francisco e seus companheiros e, logo em seguida, Clara e suas irmãs. Ao longo de 2007 fomos mergulhando nas águas profundas de nossa fonte original. Experimentamos as alegrias do encontro e realimentamos o sonho nos Capítulos das Esteiras, Congressos, caminhadas, retiros e outras tantas iniciativas regionais que reuniram muitos irmãos e irmãs, desejosos de beber juntos da fonte inesgotável do carisma.
Em 2008, estamos ouvindo, como Francisco o chamado: “Vai, reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”. A peregrinação da cruz e do Evangelho está acordando consciências, abrindo perspectivas e revelando que o apelo feito a Francisco é vivo e atual: na sociedade, na Igreja, na Família Franciscana.
Importa acordarmos todos e, com a pressa de Francisco, trocar imediatamente as vestes do triunfalismo pelo hábito de serviço humilde, descer de nossos pedestais para seguir o Senhor que nos conduz para o meio dos leprosos, sair de nossos “provincialismos” e “congregacionalismos” para caminhar como família, no respeito e acolhida do diferente, no reconhecimento aos valores e riquezas do dar e receber. Assim, como Francisco, como Clara cumpriremos a missão de reconstruir a sociedade, reconstruir a Igreja, reconstruir as pessoas, reconstruir relações de irmandade, de unidade, para que o mundo creia.