TRÂNSITO DE SÃO FRANCISCO

(Foto: Gê Jota - JUFRA de Canindé no Trânsito da Festa de São Francisco das Chagas de 2014)

“Bem-vinda seja a minha irmã morte.”
(São Francisco de Assis)

Ao cair da tarde de 3 de outubro de 1226, a febre aumentou e suas forças reduziram-se como uma chamazinha que sai e não sai do pavio quase seco de óleo.

Sabendo que tinha chegado a hora de morrer, chamou dois frades, e então Francisco quis ser colocado sobre a terra e lhes mandou que cantassem com voz alta os Louvores do Senhor, na alegria do espírito pela morte, ou antes pela Vida, já tão próxima. Ele mesmo entoou como pôde o Salmo 141 de Davi:

Em alta voz clamo ao Senhor,
em alta voz suplico ao Senhor...

Um dos frades presentes, pelo qual o santo tinha a maior amizade, embora tivesse toda solicitude por todos os seus frades, vendo isso e sabendo que a morte do santo estava perto, disse-lhe:

Ó pai bondoso, teus filhos vão ficar sem pai, vão ficar sem a verdadeira luz de seus olhos! Lembra-te dos órfãos que estás deixando, perdoa todas as nossas culpas e alegra com tua santa bênção tanto os presentes como os ausentes!

Respondeu-lhe o santo: “Filho, estou sendo chamado por Deus. A meus irmãos, tanto presentes como ausentes, perdoou todas as ofensas e culpas, e os absolvo quanto me é possível. Leva esta notícia para todos e abençoa-os de minha parte”. Assim, Francisco abençoou toda a cidade de Assis, houve por isso um grande ajuntamento de muitos povos, louvando e glorificando o nome do Senhor. Toda a cidade de Assis veio em peso, e a região inteira se apressou para ver as grandezas de Deus, que o Senhor tinha demonstrado em seu servo.

Enquanto os frades choravam amargamente e se lamentavam inconsoláveis, o pai santo mandou trazer um pão. Abençoou-o, partiu-o e deu um pedacinho para cada um comer. Também mandou trazer um livro dos Evangelhos e pediu que lessem o Evangelho de São João a partir do trecho que começa: “Seis dias antes da Páscoa, sabendo Jesus que sua hora tinha chegado e devia passar deste mundo para o Pai...” Era justamente o Evangelho que o ministro tinha pensado em ler, antes que lhe fosse dada a ordem. E abriram o livro nesse ponto na primeira vez, embora fosse uma Bíblia inteira o livro em que estavam procurando o Evangelho.

Depois, mandou que o deitassem por cima de um cilício e jogassem cinzas por cima, porque dentro em breve seria pó e cinza. Juntaram-se muitos irmãos, de quem ele era o pai e guia, e ali estavam com reverência esperando o fim ditoso e bem-aventurado. Sua alma santíssima desprendeu-se da carne e, quando foi absorvida pelo abismo da claridade, seu corpo adormeceu no Senhor.

No fim, convidou também todas as criaturas ao louvor de Deus e, usando uma composição que tinha feito em outros tempos, o Cântico das Criaturas, e que acrescentou mais uma estrofe, convidando a irmã morte com grande hospitalidade: “Bem-vinda seja a minha irmã morte!

O Canto enfraqueceu e se apagou na boca dos frades, que recitaram o Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo como conclusão do salmo entre lágrimas e emocionados.

Francisco havia ali, deixado seu corpo sobre a terra. Fez-se um imenso silêncio na cabana, parecia que toda a natureza ao redor tivesse emudecido.

REFERÊNCIAS

Tomás de Celano. Fontes Franciscanas. Cap. 8 e Cap. 163. 

Eliane Ferreira
Assessora Regional de Comunicação Social, Registro e Arquivo

Letícia Lima
Secretária Regional de Comunicação Social, Registro e Arquivo