CARTA ABERTA AOS JUFRISTAS DO CE/PI EM OCASIÃO AO DIA DA MULHER
“Judeus e gregos, homens e mulheres, escravos e pessoas livres, todos somos iguais e unidos em Cristo” (Gl 3, 28).
Teresina – PI, 08 de
Março de 2016
Dia Internacional pela Luta da Mulher!
Olá Jufristas dos Estados do
Ceará e Piauí,
PAZ E BEM!
Iniciamos essa carta provocando
em todos os Jufristas a necessidade de conhecer a história desse dia, marcado
não de alegria, mas de opressão, silêncio e coragem. É preciso fazermos memória
a essa data que, para lá de comercial, retrata um momento muito doloroso, porém
corajoso na história das mulheres que nos antecederam.
Contexto histórico¹
Em Nova York, no ano de 1857,
mulheres que trabalhavam numa fábrica foram reivindicar melhores condições de
trabalho, visto que elas trabalhavam por volta de 16h e ganhavam 1/3 do que os
homens ganhavam, mesmo sem dignidade e segurança no trabalho. Juntaram-se e
reivindicaram melhorias. Em troca, foram presas na fábrica e vítimas de um
incêndio provocado pelos empregadores. Nesse episódio, morreram 129 mulheres
carbonizadas. Em 1975, a ONU reconheceu essa data como Dia Internacional de
Luta pela Mulher, provocando em nós a reflexão sobre a necessidade de igualdade
social, política e de trabalho. Em 1977, a UNESCO reconheceu essa data em
memória ao referido incêndio. Porém, não podemos deixar de destacar que nesse
período (um século do incêndio ao reconhecimento da data) milhões de mulheres foram
silenciadas em contexto parecido e em todo o mundo. Afirmamos: a memória de
luta é de todas as mulheres! Aquelas que foram perpetuadas por um jornal da
época e as que não foram.
Todos
somos iguais e unidos em Cristo:
Passam
os dias e com eles a certeza que a luta pela igualdade da mulher é um problema
sociológico que envolve questões culturais e históricos. Considerando que em
toda a história o mundo foi dominado por homens, justo é considerá-la um
problema político também. No aspecto religioso, compreendendo que a maioria das
religiões silenciou seu papel claramente positivo e profético, cabe, no mínimo,
uma provocação espiritual e teológica.
Diante disso,
Jesus lhe disse: “Mulher, é grande a sua fé. Seja feito como você quer” (Mt 15,
28a).
Ao analisarmos a genealogia de
Jesus Cristo, somos tomados por exemplos de mulheres que marcam fortemente a
história de luta do povo de Deus (ver história de Rute). Aos analisarmos o
tempo de vida de Jesus nos vem o nome de Maria, Maria Madalena, Marta, Verônica,
Isabel e mulheres não nomeadas, como ‘a samaritana’, ‘a cananeia’, ‘viúva de
Naim’, ‘a mulher encurvada’, etc.
Jesus
interfere na ordem da sociedade patriarcal, desperta a potencialidade da
mulher, a chama para ser também suas discípulas e isto aconteceu.
“Ao insistir que todas as pessoas são filhas
de Deus, o Cristianismo diminuiu o sofrimento de mulheres que, em algumas
culturas no mundo antigo, nem eram consideradas pessoas humanas plenas ou
completas. No entanto, no decorrer da história, as Igrejas foram cúmplices e,
muitas vezes, legitimaram a discriminação da mulher, assim como conviveram e
até exploraram a escravidão, o racismo e o colonialismo. Até certos textos
bíblicos, lidos de forma literal e sem contextualização, acabam servindo para
legitimar a discriminação. ” (Marcelo Barro – CEBI, 2015)
O
que o Papa Francisco nos diz?
“As tantas
formas de escravidão, de mercantilização, de mutilação do corpo das mulheres
nos comprometem, portanto, a trabalhar para derrotar esta forma de degradação
que o reduz a um puro objeto de venda nos vários mercados. Desejo chamar à
atenção, neste contexto, a dolorosa situação de tantas mulheres pobres,
obrigadas a viver em condições de perigo, de exploração, relegadas às margens
das sociedades e vítimas de uma cultura do descartável”.
Quanto ao
papel da mulher na Igreja, o Papa se diz convicto da urgência de oferecer
espaços às mulheres, levando em consideração as específicas e diversificadas
sensibilidades culturais e sociais. “É desejável, portanto, uma presença
feminina mais ramificada e incisiva nas comunidades, de modo que possamos ver
muitas mulheres envolvidas nas responsabilidades pastorais, no acompanhamento
de pessoas, famílias e grupos, assim como na reflexão teológica”.
Por fim, o
Papa Francisco encorajou ainda a presença eficaz das mulheres na esfera
pública, no mundo do trabalho e nos locais onde são adoptadas as decisões mais
importantes. “Todas as instituições, inclusive a comunidade eclesial, são
chamadas a garantir a liberdade de escolha para as mulheres, para que tenham a
possibilidade de assumir responsabilidades sociais e eclesiais, num modo
harmônico com a vida familiar”.
(Rádio Vaticano, 2015)
Tem
mais:
Outros Papas também se dedicaram a reconhecer
a força moral da mulher e a sua força espiritual a Igreja e no mundo. O
documento que mais se destacou nesse aspecto é a Carta Apostólica Mulieris
Dignitatem, do Beato João Paulo II. O documento histórico é o primeiro do Magistério pontifício dedicado inteiramente à temática
da mulher.
O Papa Bento XVI foi outro que destacou a
importância da mulher na história. A palavra “mulher” pode ser encontrada em
mais de 700 documentos dele, entre discursos, homilias, audiências, entre
outros momentos como Bispo de Roma. Entre os anos de 2010 e 2011, ele até fez
uma série de catequeses sobre a contribuição espiritual e social de santas e
beatas da Igreja, entre elas Santa Tereza d’Ávila, Santa Joana D’Arc, Santa Clara de Assis, Santa Teresinha
do Menino Jesus e Santa Catarina de Sena. (Rádio Vaticano, 2015)
Realidade social e atual²
Mulheres do mundo inteiro ainda
são oprimidas silenciadas, sejam na negação de direitos básicos, seja como as
vítimas mais afetadas pelo capital ou pelas guerras. Atualmente, soubemos da
exploração sexual que mulheres refugiadas estão sujeitas, tanto nos territórios
em conflito como na Europa, para onde a maioria migra em busca de um novo
recomeço.
Aqui no Brasil, infelizmente, a
violência doméstica, os casos de abusos e assédios sexuais e feminicidios ainda
são comuns. Mesmo com a Lei Maria Da Penha e com o aumento das denúncias de
violência doméstica, ainda sim, mulheres são perseguidas, coagidas e
silenciadas.
Cabe a cada uma e cada um de nós
seguirmos atentas e atentos e ajudarmos a denunciarmos todo e qualquer tipo de
opressão que uma mulher se encontre.
Resgatemos em nós a dignidade da
Mulher:
Em tempo de
reflexão, de Quaresma, de mudança... aproveitemos o silêncio que nos é oportuno
para ouvir nossas irmãs de fraternidade, nossa mãe, tias, avós, amigas e/
desconhecidas, levantando um olhar ao redor de tudo, em que possamos enxergar
para além de nós e nos aproximarmos das dificuldades e dos sofrimentos dos
nossos irmãos, de modo especial da mulher oprimida, mulher negra, mulher pobre,
mulher que sofre e/ou sofreu abuso sexual e/ou violência (seja ela qual for). Que nessa oportunidade ensaiemos novas
possibilidades e, em fraternidade, nos despertemos a conhecer os clamores dessa
luta que não cessa.
Permitamo-nos nos questionar: quantas mulheres estão na minha comunidade/paróquia?
Quais movimentos, pastorais ou serviços elas assumem? Elas se sentem
valorizadas, ouvidas? É preciso mudar em algo? O que é preciso mudar? Que
atitudes e posturas são necessárias para a promoção e a vivência de relações
mais justas, igualitárias e de paz? Como se constrói relações de paz dentro de
casa, do trabalho, na Igreja, por exemplo?
Na
luta pela igualdade a mulher deve conhecer seus limites, pois não basta ser
somente igual em seus direitos ou deveres, não basta mudar a linguagem, é
preciso mudar, transformar as relações, as atitudes, a consciência, a
mentalidade. Lembremos de ser um pouquinho de todas essas mulheres mencionadas
e tantos outros exemplos que fica impossível de listar (Santa
Clara de Assis, Dorothy Stang, Zilda
Arns, Chiara Lubich, Irmã Dulce, Madre Teresa, Maria Quitéria, Maria da Penha,
Anita Garibaldi, Malala Yousafzai, Nina Simone, Harriet Tubman, Frida Kahlo,
Dandara, Joana D’Arc, etc).
Sob a proteção da Santa Mãe Maria
e intercessão de todas as Santas da Igreja Católica e mártires da caminhada do
povo, reconheçamos em nós, mulheres, o papel de ser protagonista em todos os
lugares e agentes de transformação em uma sociedade injusta e desigual, falando
por todos os povos. Que o amor genuíno e o cuidado leal com o outro, que nos é
peculiar, seja fraterno ao semelhante e ao distante.
Nesse dia tão especial O Secretariado Fraterno Regional preparou um vídeo trazendo mensagens com o rosto das Mulheres que fazem ou fizeram a JUFRA do BRASIL e a JUFRA do nosso Regional Ceará Piauí. Que esse dia 8 de Março seja lembrado por todos nós como um dia de luta e memória a todas as mulheres.
Confira o Vídeo:
#JufraCePiPelaMulher
#JufraCePiDizNãoAViolênciaContraAMulher
Acesse a Carta Aberta em PDF aqui:
https://drive.google.com/file/d/0B7NOc6NRlsBiTUdoRjI1eHhLLWN5VUUxd1NxTWljV1I1MGVJ/view?usp=sharing
Paz e Bem.
Acesse a Carta Aberta em PDF aqui:
https://drive.google.com/file/d/0B7NOc6NRlsBiTUdoRjI1eHhLLWN5VUUxd1NxTWljV1I1MGVJ/view?usp=sharing
Paz e Bem.
Jéssica Lima, JUFRA/OFS
Secretária Nacional p/a Área Nordeste A
(MA, CE/PI e RN/PB) da JUFRA do Brasil
Secretária Fraterna (Presidente) Regional
da JUFRA NE A2 CE/PI
Fraternidade Imaculada Conceição
Teresina/PI
____________________________
Secretariado Fraterno Regional NE AE CE/PI
¹ Consideramos ‘contexto histórico’ o marco da data, não as ideologias sócio-políticas da época.
² Autoria de Hannah Jook, JUFRA - Secretária Fraterna Local – Jufra Aliança de Assis, Fortaleza/CE.