Para iniciar, tivemos a honra de contar com a colaboração de Frei Faustino dos Santos, OFM, que gentilmente aceitou nosso convite para falar sobre o diálogo inter-religioso! Muito obrigada, frei, pela colaboração!
Paz e Bem a todos/as! Aproveitem a leitura.
#FormAção
Hannah Jook Otaviano
Secretaria de Formação Regional NE A2 CE/PI
________________________________________________________________________________
O
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO COMO POTENCIAL TEOLÓGICO QUE TORNA POSSÍVEL A PAZ E A
JUSTIÇA AOS HOMENS
O diálogo inter-religioso é uma
expressão relativamente recente. Enquanto “conjunto
das relações inter-religiosas, positivas e construtivas, com pessoas e comunidades
de outras confissões religiosas, para um mútuo conhecimento e um recíproco
enriquecimento” esse mesmo diálogo configura-se um desafio que alcança a todos que se dizem pertencentes a
uma religião e até aos que não se identificam com qualquer uma delas.
Podemos facilmente notar que o diálogo
inter-religioso não se configura como “o único” meio para uma sociedade poder
viver a paz, a igualdade, a justiça; em contrapartida não se pode desmerecer o
fato de que cada religião ainda exerce forte incidência no comportamento das
pessoas e possui por isso, potencial para ser um agente que atua para a paz ou
para o conflito, para a igualdade ou para a desigualdade. As religiões podem e
devem estabelecer um “vital relacionamento criativo e mútuo entre [elas]
mesmas, como condição essencial para um futuro mais harmônico para a
humanidade”[1].
São Francisco e o Sultão |
Diante da pluralidade religiosa, que é
uma realidade desafiadora do século XXI, não cabe mais às religiões
enclausurar-se ou estabelecer posturas rígidas e intolerantes às outras
diferentes expressões, na busca por salvaguardar seus valores próprios,
sobretudo em termos de justificativa e detenção das “verdades” que respondam às
grandes questões da existência humana. Já não adianta posicionamentos que
defendam uma hegemonia de uma religião em detrimento das outras, mas do
contrário não se deve renunciar a importância e o valor dessa pluralidade.
Somente com essa abertura ao outro – “diferente de mim” –, na disposição de
reconhecer suas riquezas e de aprender com ele sobre mim próprio, se pode somar
forças de todos os lados para o enfrentamento dos conflitos cada vez mais
crescentes que não favorecem o bem comum, e essa abertura será frutuosa quando
for levado em conta o que de essencial e sagrado existe em cada uma das religiões,
que sem dúvida possui uma Única e Imutável fonte que quer para todos os mesmos
dons, a mesma paz, a vida em plenitude.
Quando se fala em diálogo
inter-religioso não se pretende aludir a um mero encontro das religiões que se re-únem
para dialogar sobre suas doutrinas, crenças, ritos, símbolos, etc, afinal seria
impossível um diálogo por questões propriamente religiosas, mas se refere ao
encontro das religiões que despertam a consciência para o núcleo fundamental de
suas teo-logias, ou seja, percebendo que possuem potencial para serem meios
eficazes para a construção real da justiça e da paz para todos, afinal o conteúdo
que move a todas elas é a causa de Deus que se desdobra numa preocupação com a
humanidade e com o universo como um todo.
As religiões possuem, de modo geral,
sensibilidade às situações de sofrimento e injustiça, sobretudo dos mais
necessitados, e esse é o papel de extrema relevância para a efetivação da
vontade de Deus, mesmo sendo essa intenção deturpada em vários contextos. Com
isso não se pretende desenvolver uma teologia do diálogo enquanto espaço de
teoria, mas enfatizar com isso que o diálogo não seria possível se não houvesse
uma práxis que torna visível a verdadeira intenção da pluralidade religiosa.
Embora seja uma discussão inacabada que
ascende em passos lentos, se consegue perceber que com a disposição das
religiões por meio de um diálogo não meramente teórico, mas prático, se pode
alcançar a tão desejada paz e justiça da humanidade que é o sonho de felicidade
de Deus aos homens. O diálogo aponta que em cada religião está presente, pela
ação livre do Espírito do Deus da vida, um potencial salvífico-humanizador que
pode favorecer a tão sonhada paz e justiça aos homens.
Por:
FAUSTINO DOS SANTOS
Frade Franciscano da
Ordem dos Frades Menores. Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de
Pernambuco e Bacharelando em Teologia pela Faculdade Católica de Fortaleza.
REFERÊNCIAS
AKASHEH, P. Khaled. “Los fundamentos teológicos del diálogo
interreligioso” – Consejo Pontificio para el Diálogo Interreligioso.
Disponível em <http://cmglobal.org/vincentiana/collect/vincent2/archives/HASH124c.dir/doc.doc>.
Acessado em 22 de dezembro de 2016.
AQUINO JUNIOR, F. Diálogo
Inter-religioso por uma cultura de paz. Revista EletrônicaTeocomunicação
Porto Alegre v. 42 n. 2 jul./dez. 2012, p. 359-375. Disponível: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/teo/article/viewFile/12310>.
Acesso em 30 de outubro de 2016.
BOLETIM DA SANTA SÉ. Catequese
do Papa Francisco sobre o Diálogo Inter-religioso de 28 de outubro de 2015
na Praça São Pedro. [Tradução de Jéssica Marçal].
TEIXEIRA, F. Diálogo
inter-religioso, ontem e hoje. RELAMI (Rede Latino Americana de Missiólogos
e Missiólogas). Disponível em <http://www.missiologia.org.br/cms/ckfinder/userfiles/files/53dialogointer.pdf>.
Acessado em 03 de abril de 2016.
[1] Teixeira, Faustino. Diálogo inter-religioso, ontem e hoje.
RELAMI (Rede Latino Americana de Missiólogos e Missiólogas). Disponível em <http://www.missiologia.org.br/cms/ckfinder/userfiles/files/53dialogointer.pdf>. Acessado em 26 de janeiro
de 2016