São
Francisco era filho do comerciante italiano Pietro di Bernadone dei Moriconi e
sua esposa Pica Bourlemont, cuja família tinha raízes francesas. Os pais de Francisco faziam parte da burguesia da cidade de Assis,
e graças a negócios bem-sucedidos na Provença, França, conquistaram riqueza e
bem-estar.
O menino
cresceu e se tornou um jovem popular entre seus amigos, por sua indisciplina e
extravagâncias, por sua paixão pelas aventuras, pelas roupas da moda e pela
bebida, e por sua liberalidade com o dinheiro, mas mostrava uma índole bondosa.Era nessa
época fascinado pelas histórias de cavalaria, e desejava ganhar fama como um
herói. Assim, em 1202 alistou-se como soldado na guerra que Assis desenvolvia
contra Perugia, mas foi capturado e permaneceu preso, à espera de um resgate,
cerca de um ano. Ao ser
libertado caiu doente, com episódios de febre que duraram quase todo o ano de
1204.
Depois de recuperado tentou novamente a
carreira das armas, engajou-se em 1205 no exército papal que lutava contra
Frederico II, incentivado por um sonho que tivera. Nele
apareceu-lhe alguém chamando-o pelo nome e levando-o a um rico palácio, onde
vivia uma linda donzela, e que estava cheio de armas resplandecentes e outros
apetrechos de guerra. Indagando de quem eram essas armas esplêndidas e o
palácio magnífico, foi-lhe respondido que tudo aquilo era seu e de seus
soldados.
Animado com a perspectiva de glória, pôs-se a
caminho, mas no trajeto teve outro sonho, ou uma visão, onde ouviu uma voz a
dizer: Quem te pode ser de mais proveito? O senhor ou o servo? São Francisco
respondeu: 0 senhor, ouviu novamente a voz: Então por que deixas o senhor pelo
servo e o príncipe pelo vassalo? Confundido, Francisco disse: Que queres que eu
faça? E a voz replicou: "Volta para tua terra, e te será dito o que haverás de
fazer. Pois deves entender de outro modo a visão que tiveste".
Poucos
dias depois, já em Assis, durante uma algazarra com seus amigos, teria sido
tocado pela presença divina, e desde então, segundo a Lenda, começou a perder o
interesse por seus antigos hábitos de vida e mostrar preocupação pelos
necessitados. Certo dia
saiu num passeio pelos campos nos arredores, e ao penetrar em uma clareira
ouviu o som do sino que os leprosos, proscritos pela sociedade, deviam usar
para indicar a sua aproximação, e logo se viu frente a frente com o homem
doente. Fazia frio
e o leproso tinha apenas trapos sobre o corpo. Francisco sempre sentira repulsa
dos leprosos, mas nesse momento desceu de seu cavalo e cobriu o homem com seu
próprio manto. Espantado consigo mesmo, olhou nos olhos do outro, e viu sua
gratidão, e enquanto ele mesmo chorava, beijou aquele rosto deformado pela
moléstia.
Certo dia
entrou para orar na igreja de São Damião, fora das portas da cidade, e ali, diz
a tradição, ele ouviu pela primeira vez a voz de Cristo, que lhe falou de um
crucifixo. A voz
chamou a sua atenção para o estado de ruína de sua Igreja, e instou para que
Francisco a reconstruísse. Imediatamente voltou para sua casa, recolheu
diversos tecidos caros da loja de seu pai e os vendeu a baixo preço no mercado
da cidade, e voltou para a igreja onde tivera sua revelação doando o dinheiro
para o padre, a fim de que ele restaurasse o prédio decadente. Ao saber disso o
pai se enfureceu e mandou que o buscassem. Atemorizado, Francisco se escondeu
num celeiro, onde seu amigo lhe levava um pouco de comida.
Passado
algum tempo, decidiu revelar-se, e diante do povo de Assis se acusou de
preguiçoso e desocupado. A multidão o tomou por louco e divertiu-se
apedrejando-o. O pai ouviu o tumulto e o recolheu para sua casa, mas o
acorrentou no porão. Alguns
dias depois sua mãe, por compaixão, livrou-o das correntes, e Francisco foi
buscar refúgio junto ao bispo. O pai
seguiu-o e o acusou de dissipador de sua fortuna, reclamando uma compensação
pelo que ele havia tirado sem licença de sua loja. Então,
para a surpresa de todos, Francisco despiu todas as suas belas roupas e as
colocou aos pés do pai, renunciou à sua herança, pediu a bênção do bispo e
partiu, completamente nu, para iniciar uma vida de pobreza junto do povo, da
qual jamais retornou.
O bispo
viu nesse gesto um sinal divino e se tornou seu protetor pelo resto da vida.
Francisco
fazendo o que o crucifixo de São Damião ordenara, iniciou sua nova vida como
pedreiro, ajudando a reconstruir diversas igrejas nos arredores de Assis - esta
de São Damião, a de São Pedro e a da Porciúncula, que segundo São Boaventura
era a que ele mais amava.
São
Francisco descobriu, em 1208 ou 1209, na leitura de uma passagem do Evangelho
de Mateus, as linhas gerais que orientaram sua vocação: "Ide,
disse o Salvador, e proclamai em todas as partes que o Reino do Céu está
aberto. Vós recebestes gratuitamente; dai sem receber pagamento.Não leveis
nem ouro, nem prata nem cobre em vossos cintos, nem um alforje, nem uma segunda
túnica, nem sandálias, nem o cajado de viajante, pois o trabalhador merece ser
sustentado." Dessa
forma, de devoto passou a ser missionário, e começou a pregação da palavra
divina, convertendo, entre eles Bernardo de Quintavalle, um rico burguês de
Assis, que vendeu tudo o que tinha para dar aos pobres, Pietro Cattani, que foi
mais tarde seu sucessor na Ordem, e o Irmão Giles.
Francisco e o Papa |
Chegando em Assis, instalaram-se em uma cabana no campo, onde se dedicaram ao cuidado dos leprosos, ao trabalho manual e à pregação, vivendo de esmolas. Logo a cabana se tornou pequena para o crescente número de irmãos, mas o abade do mosteiro beneditino do Monte Subásio lhes concedeu em fins de 1210 o uso da capela da Porciúncula e de uma terra adjacente. Nesse período sua pregação já alcançara toda a região em volta, mas não eram sempre bem recebidos.
Em 1212 a
Ordem foi enriquecida com a primeira mulher, Clara d'Offreducci, a futura Santa
Clara, fundadora do ramo feminino dos Frades Menores, as Clarissas, que logo
trouxe suas irmãs, a quem foi dado o uso da capela de São Damião.
No mesmo ano fizeram sua primeira tentativa, frustrada, de evangelizar os sarracenos na Síria, mas não conseguiram chegar ao seu destino e acabaram voltando a Assis com grande dificuldade. Durante a viagem de navio, conta a tradição que o santo fez o milagre de pacificar uma tempestade e de multiplicar a comida dos marinheiros, que terminava. Nessa época seus milagres foram numerosos. Em Ascoli curou enfermos e fez muitas conversões, em Arezzo os arreios de um cavalo que ele havia tocado curaram uma mãe em perigoso trabalho de parto, em Narni curou um paralítico, em San Gimignano expulsou demônios, e em Gubbio pacificou um lobo que assolava a região, entre muitos outros prodígios. Sua fama como santo já se espalhava, e recebeu em doação o monte Alverne para que erguesse ali um refúgio para os irmãos.
No mesmo ano fizeram sua primeira tentativa, frustrada, de evangelizar os sarracenos na Síria, mas não conseguiram chegar ao seu destino e acabaram voltando a Assis com grande dificuldade. Durante a viagem de navio, conta a tradição que o santo fez o milagre de pacificar uma tempestade e de multiplicar a comida dos marinheiros, que terminava. Nessa época seus milagres foram numerosos. Em Ascoli curou enfermos e fez muitas conversões, em Arezzo os arreios de um cavalo que ele havia tocado curaram uma mãe em perigoso trabalho de parto, em Narni curou um paralítico, em San Gimignano expulsou demônios, e em Gubbio pacificou um lobo que assolava a região, entre muitos outros prodígios. Sua fama como santo já se espalhava, e recebeu em doação o monte Alverne para que erguesse ali um refúgio para os irmãos.
Seus anos
finais foram passados em tranquilidade interior, quando seu amor e compaixão
por todas as criaturas fluíam abundantes, ao mesmo tempo em que ele
experimentava repetidas visões e êxtases místicos, fazia outros milagres,
continuava a percorrer a região em pregações, e multidões acorriam para vê-lo e
tocá-lo.
No Natal
de 1223 foi convidado pelo senhor de Greccio para celebrar a festa numa gruta
com pastores e animais, desejando recriar o nascimento de Cristo em Belém,
sendo a origem da tradição dos presépios.
Francisco e a criação do presépio |
Na
primavera seguinte viajou para a Porciúncula a fim de assistir a reunião do
Capítulo Geral, e em seguida retirou-se para o santuário do Monte Alverne,
acompanhado dos irmãos Leo, Ruffino, Angelo, Silvestre, Illuminato, Masseo e
talvez também Bonizzo. Muitas vezes os deixava e se embrenhava nas matas, a fim
de meditar solitário, levando consigo apenas os Evangelhos e comendo muito
pouco. Às vezes o Irmão Leo, em segredo, o observava,
e por mais de uma vez testemunhou seus êxtases e viu parte das visões que o
santo via. Nos
estados contemplativos eram-lhe reveladas por Deus não somente coisas do
presente, mais também do futuro, assim como lhe fazia conhecer as dúvidas, os
secretos desejos e os pensamentos dos irmãos.
Durante
uma meditação, em 14 de setembro de 1224, no dia da festa da Exaltação da Cruz,
Francisco viu a figura de um homem com seis asas, semelhante a um serafim, e
pregado a uma cruz, e à medida que continuava na contemplação, que lhe dava
imensa felicidade mas era sombreada de tristeza, sentiu se abrirem em seu corpo
as feridas que o tornaram uma imitação do próprio Cristo crucificado.
Foi, dessa
forma, o primeiro cristão a ser estigmatizado, mas enquanto isso lhe trazia
alegria, sendo um sinal do favor divino, foi-lhe motivo de muito embaraço e
sofrimento físico.
Sempre
tentou ocultar os estigmas com faixas e seu hábito, e poucos irmãos os viram
enquanto ele viveu. Mas eles
lhe causavam muita dor e com isso dificultavam seus movimentos, além de
sangrarem com frequência. Muitas
vezes teve de ser carregado por não poder andar, ou teve de viajar sobre uma
mula, o que não era permitido aos irmãos por ser um luxo.
Também
padeceu de outras enfermidades, ficou quase cego, e as suas dores de cabeça
eram terríveis, mas apesar de receber ordem de procurar tratamento, os médicos
nada puderam fazer para aliviá-lo.
Passou
algum tempo sob os cuidados de Clara, e ali deve ter composto, em 1225, seu
Cântico ao irmão Sol, mas sua condição se deteriorava diariamente, e ditou seu
Testamento.
Melhorou
então, e viajou para um eremitério perto de Cortona, mas ali piorou novamente,
e foi levado para Assis, hospedando-se na casa do bispo em meados de 1226. Pouco
depois, pediu para ser levado à Porciúncula, para que pudesse morrer entre os
irmãos. Sentindo a
morte próxima, solicitou a uma amiga romana, a nobre Jacopa de' Settesoli, que
trouxesse o necessário para seu sepultamento, e também alguma comida bem
preparada, que ele havia provado em sua residência em Roma e que deveria
aliviar seu sofrimento.
Foi
despedir-se de Clara e das irmãs em São Damião e voltou à Porciúncula, deu
instruções para ser sepultado nu, e no por do sol de 3 de outubro de 1226,
depois de ler algumas passagens do Evangelho e salmo 141, faleceu rodeado de
seus companheiros, nobres amigos e outras personalidades. Nesse momento um
bando de aves veio pousar no telhado e cantou.
Logo em
seguida o Irmão Elias notificou a todos de seu desaparecimento e divulgou sua
estigmatização, até ali mantida em sigilo, seu corpo foi examinado por muitas
testemunhas a fim de comprová-lo, e o povo de Assis e dos arredores acorreu
para prestar-lhe sua última homenagem. Foi enterrado no dia seguinte na igreja de São
Jorge.
Menos de
dois anos depois, o papa Gregório IX foi pessoalmente para Assis para
canonizá-lo, o que aconteceu em 6 de julho de 1228 com grande pompa. Em 1230
foi inaugurada uma nova basílica em Assis, que recebeu seu nome e hoje guarda
as suas relíquias e abriga o seu túmulo definitivo.
Viva São Francisco de Assis!
Paz e Bem!
por Darah Lúcia
Assessora de Comunicação Social,
Registro e Arquivo para o Regional NE A2